quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Recado da Rúbia


 Ressonâncias enviadas
por Rúbia Cruz*



O momento de partilha das vidas das nossas queridas professoras, autoras de Carregadoras de Sonhos, veio-me o grito da alma. Procurei em suas raízes, encontrar os mais recôndidos lugares de onde crescera o grito.
Vivo o luto pela perda de minha mãe. Ela foi a mãe-amiga que compartilhou sua vida comigo e eu com ela. Meus filhos foram filhos dela.

Mexia-me na poltrona do Centro de Convenções da UNICAMP, mil lembranças:
Ia para primeira escola que lecionei a pé. Era um caminho de descida e subida, no vale, o córrego, na subida a vida do narcotráfico. A escola: viva, cheia de crianças que tentavam viver a infância, dura, cheia de restrições, mas pulsante em seus olhinhos morenos. Minhas botas contavam a história desses caminhos. Elas furavam, meu pai trocava a sola... desbotavam e meu pai pintava. Durou bravamente os três anos em que subi e desci para dar minhas aulas na alfabetização daquela escola municipal. 
Minha mãe me aguardava com meu filhinho que dormia. Dormia o sonho de quem se alimentara bem à hora do almoço. Ela cronometrava os tempos. Ele acordava minutos depois em que eu também já estava alimentada e de ares mais frescos, escondida e protegida do sol. Aquele despertar era o instante de ouvir as músicas aprendidas, os versinhos, os versículos bíblicos que Vovó Cema ensinara ao bom menino. E a vida corria mansamente na eternidade daquele momento, hoje memórias de amor intenso!
As histórias das professoras emaranharam-se às minhas, a maestria de Idália envolveram-me, comi o fruto amargo e engoli, lágrimas pularam da emoção e alegria do encontro de quem luta e acredita no que faz. 

Brotou o pequeno ensaio de poema, banhado dos sentimentos que nos humanizam e nos solidarizam uns com outros. Sigamos coletivamente irmanados na intensa alegria de transformação, da construção de uma escola outra, de um mundo outro...
Raízes do grito
Grita a alma no luto
No silêncio do riso e do abraço
Grita o grito da alma
Na raiz da dor
E do  lamento
Onde ponho este amor sem fim?
Raiz do grito da alma?
Razão de existir
Em quem sou?
Entremeam-se vozes,
Compartilham sentimentos,
Acalentam o choro
Apontam os caminhos
            Caminhar... caminhar... caminhar...

Rúbia Cruz é professora, diretora da rede municipal de Campinas, gepecquiana das antigas, doutoranda do GEPEC

Um comentário:

  1. Rúbia querida e demais "Falantes",
    Onde mais encontramos poesias partilhadas com tanta entrega e acolhimento?
    Obrigada pela presença marcante e por seu carinho, agora em palavras, há dias em muitos abraços...
    Beijo grande!

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